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Black Alien está de volta! (foto: Gabriel Rogich)

O Só Pedrada Musical é muito fã do Black Alien! Desde os primórdios na clássica parceria com Speed Freaks, depois no Planet Hemp, e nisso inclui-se todas as suas incríveis e numerosas colaborações, os shows com o Reggae B, seu clássico disco “Babylon By Gus Vol. 1 – O Ano do Macaco”.

Tivemos o privilégio de viver e presenciar tudo isso nos últimos vinte anos. É uma das grandes vozes da música brasileira contemporânea e que agora, onze anos depois, está de volta no álbum “Babylon By Gus Vol. 2 – No Princípio Era O Verbo” (que você ouve e baixa aqui).

Trocamos uma idéia com o Gustavo sobre essa nova fase, novo disco e de ‘pele nova‘. Saca só as idéias!

SPM: Depois de onze anos entre um álbum e outro, o que mudou no Gustavo nesse período e quais foram as influências e referências pra esse novo trabalho?
BA:
Fiquei 11 anos mais velho… Passei por momentos difíceis e também de glória. Sou pai de 2 filhos e estou casado, mudei de cidade e tenho um cachorro. Tudo isso muda um homem, e muda muito. Inclusive as influências. O que mais me influencia hoje em dia, é a minha própria caminhada, mas falando de música, artes em geral, vou te contar um segredo… Fica só entre nós (risos). O que mais me influenciou neste trabalho, foi o radinho que tocava ininterruptamente na clínica, onde me tratei por 6 meses.

SPM: ‘No Principio Era O Verbo’. O que você quer passar com esse título?
BA:
Este título tirei do primeiro capítulo do livro de João, quando fui presenteado com uma bíblia bilíngue pelo meu amigo André Ramiro em Niterói. O que eu quero passar com ele, é mostrar a força de transformação que o verbo tem, o poder da palavra, escrita e principalmente emitida, pois como eu já disse antes, todo o som emitido, para sempre se propaga. Então muito por isso, eu quis dizer coisas positivas no meu disco.

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Babylon By Gus Vol. 1 – O Ano do Macaco

SPM: Seu primeiro álbum já tem onze anos e continua super atual, não só em sonoridade, mas também liricamente. Você acha que seu novo álbum irá seguir esse mesmo papel?
BA:
Eu não tive pretensão alguma em relação a repercussão no primeiro disco, e neste também não. Até eu, estou digerindo ainda este novo filho, pois o parto ainda é muito recente. Quando eu escuto este segundo disco, eu descubro uma coisa nova a cada audição, coisa que aconteceu com o primeiro disco também. Só espero que dentro deste papel estejam inclusos o esclarecimento, a informação, o entretenimento e alegria e paz de espírito que tudo isso traz.

SPM: Você vem falando que esse é um álbum em que ‘literalmente troca de pele’, o que isso quer dizer?
BA:
Quer dizer que, apesar da minha essência continuar a mesma, tive que me reconfigurar como ser humano para salvar a minha vida, enquanto concebia este álbum.

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SPM: Você foi super envolvido com o skate, né? Nesse álbum tem um som exaltando essa paixão ao lado de dois caras que também tem uma ligação forte com o esporte, que são Kamau e Parteum. Fale um pouco sobre essa sua paixão.
BA:
E põe paixão nisso…
Desde os 14 anos meu sonho era ser skatista profissional. Mas Deus tinha outros planos para mim.
Os palcos foram substituindo as pistas aos poucos, e quando eu vi já estava aqui. Eu consegui tirar o meu sustento da música antes disso acontecer com o skate, e ai tudo isso se misturou e virou um estilo de vida.
Durante muito tempo eu deixei o que eu realmente amava de lado, e agora abençoado com uma chance para fazer isso, estou trazendo tudo de volta. Tudo que eu amo para bem perto de mim, e vendo daqui agora eu penso: ” como eu fiquei tanto tempo longe das coisas e pessoas que eu amava/amo. ” Quando eu parei de andar de skate, tudo na minha vida ficou estranho, ele dava eixo as coisas, equilibrava o meu espírito. Atualmente estou me tratando de uma lesão no joelho, estou parado, mas contando os dias para voltar, e esta música saúda esta minha gana de pôr o carrinho no chão!

SPM: A faixa ‘Somos O Mundo’ tem uma pegada bossa nova, desde a produção ao refrão, até mesmo os seus versos que exaltam Tom Jobim e Elis Regina. Pode-se dizer que sua nova fase é mais bossa nova do que dancehall?
BA:
Eu sempre fui bossa nova e sempre fui dancehall. Tanto um banquinho e um violão, como a energia agressiva da metralhadora de palavras de um bom Ragga me fascinam. Acho que tem um pouco dos dois no disco, de formas diferentes, sutís, mas tem.

SPM: A presença de Luiz Melodia na faixa “Quem é Você “ é incrível. Como surgiu essa parceria e convite?
BA:
Há um tempo o mestre me convidou para ir ao programa “Altas Horas”, fiquei em choque, meus pais mais ainda. Fizemos uma versão de “Negro Gato”. Já havíamos conversado antes pois ele é pai de um querido amigo, o Mahal. E enfim… No dia fiquei impressionado com seu profissionalismo, talento, carisma e generosidade. Eu não estava muito bem, por isso agora me vi na obrigação de retribuir todo este carinho, e foi demais, além de ter uma das vozes mais bonitas do mundo no meu disco.

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Babylon By Gus Vol. II – No Princípio Era O Verbo (Arte: Petis Pois Studio)

SPM: A capa do disco é um destaque a parte, feita pela Petit Pois. O que você quis passar com essa arte?
BA:
Há 5 anos atrás conversei com Felipe e Mari sobre este sonho que eu tinha. Já enfrentava minhas batalhas pessoais, ciente que tinha um problema, por isso, ao assistir estes dois filmes, que são de cabeceira “Rumble Fish ” e “O Sétimo Selo”, me vi ali. Alguém que é capaz de brigar com o próprio reflexo, e que o tempo todo duela consigo mesmo. O meu eu “morte” sou eu e minhas escolhas erradas, que estavam me levando para um caminho sem volta. O meu outro eu estava apático, e resolvi bota-lo para jogar. Feliz agora de poder cinco anos depois, realizar este sonho, e pelo menos ter colocado a morte em xeque.

SPM: Você sempre foi um cara muito urbano. Como está sendo essa fase de morar mais isolado da cidade, no mato. Tá curtindo?
BA:
Tem dia que sim, tem dia que não (risos)…
Brincadeira. Mas a real é que estar em contato com a natureza e longe das tentações da babilônia, me protege e faz com que a atmosfera esteja mais leve no dia a dia. O que facilita minhas reflexões, minhas inspirações e estreita o meu contato com o Poder Superior. Deus está em todas as coisas, mas é na natureza que O vejo de maneira mais clara