Nesta quarta-feira, dia 27 de Novembro, o Só Pedrada Musical se une a Red Bull Music Academy Bass Camp 2013 e trás para o Brasil um dos LIVEs mais elogiados da atualidade de um artista que faz parte da história do blog desde o início. Estamos falando do produtor francês Onra que apresenta suas pedradas ao vivo no Beco 203 em São Paulo.

Conhecido internacionalmente pela sua série ‘Chinoiseries’ lançada em 2007 (e o segundo volume em 2011), Onra criou um estilo próprio fazendo uso de música vietnamita e chinesa em beats alucinantes. Em seu trabalho mais autoral, lançado no álbum “Long Distance”, mostrou uma faceta mais eletrônica e sintética com influência forte da sonoridade dos anos 80. Onra é elogiado por nomes que vão de A-Trak a Gilles Peterson e promete colocar o Beco 203 abaixo nessa festa que ainda vai contar com nomes da cena brasileira como o brasiliense Pazes, o carioca Leo Justi e os ‘já de casa’ CESRV, Sants, Cybass e MJP em um pocket show do selo Beatwise Recordings.

Trocamos uma idéia com o Onra antes de seu embarque para o Brasil e você pode conferir abaixo:

Como começou a sua relação com a música e posteriormente com a produção?
Onra: Começou em 91, com 10 anos, quando me apaixonei pelo hip-hop e por música em geral. Tudo que tinha rap no meio, eu me envolvia. Tive sorte pois esse foi um momento em que o hip-hop e o r’n’b estavam em um ótimo momento musical, então nem precisava ser muito exigente. Meu gosto já estava bem claro e eu sinto que essa relação forte com o hip-hop ajudou a definir meu estilo como produtor.

Seu primeiro trabalho de destaque internacional, foi o álbum ‘Chinoiseries’ lançado em 2007. Nos conte um pouco como foi o processo de produção do disco. A viagem ao Vietnã e os diggins feitos por lá.. Alguma história curiosa?
Onra: Em 2006 eu fui para o Vietnã pela primeira vez com minha ex-namorada. Eu não falava a lingua e a cultura vietnamita/asiatica nunca fez parte da minha vida, portanto fui lá somente como um turista francês. E foi uma ótima introdução as minhas raízes asiaticas. Eu estava muito inspirado pela viagem quando comecei a achar os discos antigos de musica chinesa e vietnamita. Quando voltei pra França fiz o álbum em uma semana.. Mas saiu somente um ano depois pois já estava com alguns trabalhos agendados pra lançar (o disco ‘Tribute’ com o Quetzal e o ‘The Big Payback’ com o Byron The Aquarius). Foi bem dificil achar os discos em Ho Chi Minh, lá quase não tem lojas de discos, somente CDs básicos de pop contemporêneo e música tradicional. Era até dificil explicar que eu estava atrás de lojas de vinil pois essa cultura já é praticamente esquecida por lá. Eu precisei descobrir como se falava ‘vinil’ na lingua local e comecei a rodar a cidade perguntando pras pessoas na rua, em lojas de musica, taxistas e finalmente achei um sebo antigo. Foi um momento de muita felicidade, parecia que tinha eu tinha encontrado um tesouro escondido.

Esse álbum foi feito usando samples obscuros de música vietnamita e chinesa. Existe diferença em trabalhar com música oriental e ocidental ou tudo se comunica da mesma forma?
Onra: Não é da mesma forma.. É o mesmo processo, pois eu uso o mesmo processo pra produzir qualquer tipo de música. Mas com a musica asiatica é dificil achar um bom sample ou algo que seja simples de se trabalhar. Então, achar os samples certos é uma grande parte do trabalho e é isso que tento mostrar nas apresentações. Musica asiatica em geral não soa muito bem aos nossos ouvidos, muita coisa pop e desinteressante, mas eu podia pegar alguns segundos de doze músicas diferentes e combinava os samples resultando em uma coisa bacana. Porém nem sempre esses poucos segundos são o bastante pra sair algo bom. Depende muito. É um longo processo escutar muita coisa ruim pra achar um ou dois sons bons aqui e ali (risos)

Podemos esperar um outro volume do ‘Chinoiseries’ ou essa idéia já se esgotou?
Onra: Eu acho que sai a terceira parte final pra criar uma boa trilogia. Ainda tem muitos discos e samples pra criar outro álbum. Mas ainda não estou pensando nisso. Quero fazer coisas novas, explorar caminhos que ainda não segui. Sinto que tenho muito pra dar ainda..

Você é francês, mas tem raízes vietnamitas, certo? Você já tinha ligação com as suas raízes orientais ou isso veio junto com a música?
Onra: Como eu disse, não tinha conexão nenhuma com minhas raízes e com a cultura asiatica. Meu pai é vietnamita e indio, minha mãe francesa. Na verdade eu nasci na Alemanha, cresci entre a França e a Africa com uma influencia muito grande da cultura afro-americana. Eu me vejo como um cidadão do mundo.

Seu álbum ‘Long Distance’ mostrou um lado mais sintético e eletrônico em seu trabalho com referências musicais fortes da década de 80. A década de 80 é a sua década preferida musicalmente falando ou foi algo do momento?
Onra: Eu descobri a musica dos anos 80 depois de explorar bastante a musica da década de 70. E quando isso aconteceu realmente mexeu com a minha cabeça. Muita sonoridade boa que ainda não conhecia. Tantos timbres novos e diferentes. Tornou-se a minha decada favorita naquele momento, assim como também considero os anos 70 e 90. Quanto mais velho fico, mais me apaixono por novos gêneros sonoros e mais a minha coleção de discos cresce… Meu gosto pessoal é muito envolvente, a base que eu tive foi o hip-hop que foi muito inspirado por tudo que aconteceu nos anos 60/70/80 com jazz, rock, funk etc.

Você conhece alguma coisa de música brasileira? O que te atrai na nossa música?
Onra: Eu conheço algumas coisas e gosto bastante, especialmente o que era feito nas décadas de 60 e 70 que foi o que me atraiu. Gosto de tudo, os padrões percussivos, arranjos, vocais. Tem uma caracteristica e vibração única no mundo. Não soa como nada parecido e inspirou muito músicos de diferentes épocas e países pelo mundo.

De uns anos pra cá o Brasil tem revelado uma série de bons produtores criando uma cena local efervescente. Você já teve acesso aos novos nomes da produção brasileira contemporânea?
Onra: Infelizmente ainda não ouvi nada sobre a cena brasileira. Eu admito que não sei nem o que se passa direito pela cena francesa ou de qualquer outro lugar. Tem tanta coisa pra descobrir do passado que fica dificil prestar atenção nas coisas novas também. Mas estou muito curioso pra ouvir o que ta rolando por aí. Tenho certeza que é algo especial como qualquer tipo de música brasileira sempre foi.

O que você espera da sua passagem pelo Brasil?
Onra: Infelizmente vou ficar pouco tempo, mas estou esperando ótimas experiencias, conhecer novas pessoas, fazer novas amizades, fazer um ótimo show e, claro, me divertir.

Você passou pela Red Bull Music Academy em 2008 e volta e meia está fazendo coisas com eles. Qual foi a importância da RBMA pro seu trabalho?
Onra: A RBMA me ajudou em muitas coisas, abriu minha cabeça para o mundo, me apresentou caminhos diferentes na música e, principalmente, me fez conhecer muita gente que fez diferença na minha carreira. Ja fiz diversas gigs com a RBMA em diversos cantos do mundo e sou muito agradecido por todas essas oportunidades.

Quais seus planos futuros? Pode adiantar alguma coisa pra gente?
Onra: Plano futuros? (risos) Nem eu sei! Tenho algumas ideias ainda cruas que vou manter pra mim até amadurecer, mas em 2014 tem álbum novo, novas colaborações.. Veremos..

Pra ir fazendo o esquenta, segue os dois volumes da série ‘Chinoiseries’ pra streaming.

Onra – Chinoiseries Pt 1 (2007)

Onra – Chinoiseries Pt. 2 (2011)

RBMA BASS CAMP:
Criado nos mesmos moldes do Red Bull Music Academy, o RBMA Bass Camp é uma versão mais compacta, que acontece em apenas quatro dias, mas com os mesmos objetivos do RBMA – fazer circular novos caminhos e tendências entre integrantes de diversas cenas musicais. Somente neste ano, o RBMA Bass Camp já passou por Madri, São Petesburgo, Breslávia, Dubai, Viena e recentemente em Joanesburgo. Agora é a vez do Brasil!

Confira a programação aqui.

Serviço:
Só Pedrada Musical & Red Bull Music Academy Bass Camp 2013 apresentam:

Diretamente de Paris, ONRA (Live) In São Paulo @ Beco 203
Dia 27 de Novembro, quarta-feira, a partir das 23h.

Line-up:
ONRA (LIVE/França)
Pazes (LIVE/BSB)
Leo Justi (LIVE/RJ)
Beatwise Recordings Pocket Show
(CESRV, Sants, Cybass, MJP)
DJ Tamenpi (Só Pedrada Musical)
Rodolfo Tavares (Colab 011)

Visuais:
U-RSO (Metanol FM)

Valores:
R$ 25 (na lista até 00h)
R$ 30 (na lista após 00h)
R$ 40 (porta sem lista / lista após as 02h)

LISTA: sopedradamusical@gmail.com

Beco 203
Rua Augusta, 609