Fato: Chicago é uma das cidades mais musicalmente férteis do mundo, já que não há gênero musical moderno ou contemporâneo que não encontre ressonância na cidade ou ao menos um grande expoente oriundo dela. Ainda mais se concentrarmos “apenas” na música afro-americana, enveredando pelo Blues urbano clássico e o Jazz que estabeleceram as fundações, segundo pelo Funk e Soul do meio-oeste norte-americano, a música eletrônica industrial, a House Music e chegando até o Dirty South mais recente, a presença de Chi-Town no panteão da música popular dos EUA é impossível de ser ignorada.

Entre tantas influências ali originadas, Jamal Moss é uma das mais inusitadas e originais figuras desse opulento cenário e sua sonoridade tão singular é algo tão dissonante quanto inegavelmente vinculado a essa herança. Criado em clubes como Medusa, bastião da cena alternativa local ao lado da loja/selo Wax Trax, e Muzic Box do pioneiro Ron Hardy, ele se situa num insólito interstício de cenas divorciadas e concomitantes que surgiram nestes lugares de desbunde eletrônico.

Sua carreira já se estende por uma década, porém foi apenas nos últimos anos que ele começou a granjear amplo reconhecimento, num movimento alentador em que suas doideiras cáusticas invadiram uma considerável parte da atualmente tão disputada atenção do público, assim como caiu nas graças até mesmo dos críticos mais conservadores da música eletrônica.

Mas não se enganem, cada faixa dele, seja como Hyerogliphic Being ou IBM ou outros projetos, são viagens lisérgicas por um universo de ruídos esquisitos e construções as mais birutas, onde ritmos convencionais são dissolvidos em uma espessa pasta pulsante e melodias assumem uma estrutura tão corrosiva quanto hipnótica, tudo muito bem amalgamado num denso composto sonoro. Contudo, por mais que seu preparado sônico não seja tão acessível quanto aquilo em torno do que a eletrônica tem se conformado (e acomodado em grande parte) recentemente, este álbum é primoroso justamente porque deslinda as convenções normalmente aceitas dentro dessa constelação estilística e as reorganiza num modo abrasivo e único.

Efetivamente, The Seer of Cosmic Visions vai muita além da já nobre tarefa de ser um álbum de vulgarização do estilo de Jamal ou tão-somente um ponto de acesso privilegiado aos iniciantes que até aqui dificilmente ouviram falar dele. Podemos considerar esta maravilhosamente complexa jornada aural como um desenvolvimento de sua arte por caminhos algo incomuns – ao menos para alguém tão pouco trivial como ele – na qual deposita todas as suas tão díspares referências (EBM, Sun Ra, Throbbing Gristle, Frankie Knuckles, o Techno da vizinhança) numa pirose sintética saborosamente condensada.

Tracklist:

01. The Seer Of Cosmic Visions
02. How Wet Is Ur Box
03. Space Is The Place
04. Letters From The Edge
05. A Genre Sonique
06. The Human Experience
07. 134340 Pluto
08. Calling Planet Earth
09. Strange Signs In The Sky